26 outubro 2013

3 anos [Sara]


Há 4 dias que perguntas se" é hoje que a Sada faz anos" e ao que eu respondo sempre que não, mas tu emburras de tal forma e dizes que sim que eu só para não te ouvir gritar, deixei-te fazer anos estes dias todos... mas o o dia certo e exacto é HOJE. Completas três deliciosos anos.
Como o tempo nos foge das mãos, meu Deus!
Estas enorme, minha querida filha. (medes 93 cm, menos dois que a Eva e pesas menos 1,5kg que ela na mesma idade)
Tem sido um prazer educar-te, amar-te e cuidar-te.
Este ano tem sido um ano de muitas conquistas. Iniciaste a escolinha, e tens te saído muito bem com a aprendizagem de coisas novas e a vivência em grupo. Apesar de que não lidaste muito bem com a separação nestes primeiros tempos, mas é normal, faz parte!
Noto que estas super desenvolvida ao nível da fala, expressaste claramente e tens uma excelente dicção. Esforças-te por aprender palavras novas e dizê-las correctamente. Não te importas que eu te corrija e isso é muito bom.
Fazes imensas perguntas, são imensos os "porquês", queres saber o que é e para que é tudo. Questionas até quem me liga ao telefone, coisa que a tua irmã nunca fez. 
Este ano também conheceste uma casa nova, maior e com mais espaço para brincares. Inicialmente não gostaste muito da ideia e estavas sempre a perguntar pela casa da mãe, mas agora ja estas perfeitamente adaptada.
E por ultimo, a grande novidade foi a vinda do maninho para "incomodar" a tua vida. Até aqui eras a menina mais nova e passaste a ser "a do meio", vamos ver como lidas com esse novo papel.
Embora ja te tenhas vindo a revelar nestes últimos dias. Andas agressiva. Bates imenso na mana maior, por vezes ela até te foge... mas temos vindo a conversar sobre isso e acredito que juntas vamos melhorar.
À mesa, que comias tão bem e pela tua mão, sempre foste tão independente, agora regrediste, "queres ajuda" imensas vezes. Não sei se foi da escola se da vinda do mano, mas que é tão chato, isso é!
Continuas uma menina muito criativa nas brincadeiras, com um sentido imaginativo muito grande... tanto que uma fila de cubos alinhados para ti é um comboio, e assim imaginas que tens um... mas a mãe, ja tratou de te comprar um exemplar. O que te vais deliciar com ele... ja estou a imaginar.
A tua irmã é sem duvida a tua melhor amiga, brincam imenso. São cúmplices em tudo, para o bem e para o mal, Adoro ver-vos assim, e espero que o sejam pela vida toda. Eu estou sempre a dizer-vos isso mesmo, que gostava que fossem sempre, sempre amigas.
Agora tens uma expressão nova... sempre que algo não esta do teu agrado ou quando vamos contra a tua vontade... gritas-me e dizes que "não gostas de mim, nunca, nunca, nunca"... Qualquer coisas que não querias la vem o "nunca, nunca, nunca"... enfim! Recordações que ficarei para sempre deste ano.
O adormecer, continua complicado e difícil, já tentamos tudo cá em casa, desde sentar ao teu lado, contar historias, colocar-te na nossa cama para adormecer e ate deitar contigo, mas acabamos por adormecer primeiro que tu. Agora desisti e pedi para que passasses a fazer apenas 30 minutos de sesta na escola, e isto sim, resultou muito bem. Agora em vez de 1 a 2 horas para adormeceres, ja consegues faze-lo em 30 ou 45 minutos no máximo, felizmente. Confesso que ja andava cansada desta fase.
Adoras andar de bicicleta. Embora o veículo seja da tua irmã, tu é que fazes uso dele. És mesmo dada a estes exercícios, já a Eva, o negocio dela nunca será este... tanto que ela pediu a bicicleta e agora se não fosses tu, estaria encostada.
Hoje teremos uma pequena festa com os nossos amigos. Uma festa de convívio e de comemoração. Espero que te delicies e que tenhas um dia bem alegre e feliz, vou tentar contribuir para isso.
Na segunda feira levaremos um bolinho para a escola, tal como tu mesma pediste.
Adoro-te minha menina loura.

02 outubro 2013

O [nosso] parto em casa… após duas cesarianas [VBAC2]



Ao longo de 35 longas semanas, a dúvida mantinha-se: Onde, como e de que forma ia nascer a minha criança? 

Sou uma mãe com duas cesarianas prévias, uma por sofrimento fetal, após uma indução em 2008 e outra por febre intra-parto em 2010, neste entrei em trabalho de parto naturalmente e levei epidural perto dos 5/6 cm, mas a febre e o procedimento hospitalar não me deixaram evoluir. 

Desta vez ninguém me ia tirar a oportunidade de fazer nascer o meu filho! Isso já eu tinha decidido bem antes de estar grávida. 

As pesquisas sobre um VBAC2 começaram logo depois do parto da minha segunda filha, mas foi no dia que veio o positivo que me apliquei em força. Eu não queria passar por outra intervenção cirúrgica (cesariana) sem verdadeira necessidade. Sei que em Portugal o procedimento dita que após duas cesarianas a terceira é garantida… mas eu sabia que noutros países, noutras realidades isto já não se aplica, ou seja uma gravida/gravidez de baixo risco pode ser candidata a parto normal. 

Li, pesquisei imenso, em sites internacionais, em sites de maternidades estrangeiras, li artigos e estudos em bibliotecas médicas. Falei com Obstetras de outros hospitais, enfermeiros que trabalham no hospital onde, supostamente o meu bebé poderia vir a nascer. 

Era preciso avaliar o risco de ruptura uterina, era preciso perceber o quão alto ele era na realidade, já que a minha GO não sabia quantifica-lo. E eu não queria de forma nenhuma por em risco as nossas vidas, a segurança tinha de vir em primeiríssimo lugar. 

Foram largos meses nisto. Às 22 semanas, surge o primeiro encontro com o enfermeiro que me assistiu no parto em casa. Onde nos explicou imensas coisas, retirou-nos algumas dúvidas, garantiu ser perfeitamente possível o parto via vaginal e em casa se assim o entendêssemos, mas o meu marido veio de la com a ideia de que parto em casa: NÃO! 

Confesso que não insisti durante largas semanas, e deixei a ideia amadurecer na cabeça dele. Fui comentando de artigos que ia lendo, apenas e só! 

Ao longo da gravidez as consultas com a GO acabavam quase sempre no mesmo: cesariana por procedimento e possível laqueação… esta ultima assustava-me ainda mais que a primeira. Até porque sei que há casos em que a intervenção foi feita sem consentimento. E não era assim tão difícil justificarem-na, bastaria que alegassem que os tecidos do meu útero não suportavam nova gravidez ou algo do género. 

A ideia de ter o meu bebe num apartamento não me agradava muito, gostava imenso de ter uma casinha simpática, onde nós pudéssemos estar mais confortáveis, caso eu viesse a decidir ter o bebe em casa. E eis que às 33 semanas, essa oportunidade surge. Uma moradia, perto da cidade e a 10 min do hospital, dentro dos valores que podíamos arrendar. Na minha cabeça tudo se estava a alinhar para que o parto fosse mesmo domiciliar. 

Mudanças feitas. O tempo foi passando, fomos garantindo que a gravidez se mantinha de baixo risco e que realmente o parto em casa poderia ser viável. Às 35 semanas, assumi que sim, que seria em casa, acompanhada pelo enfermeiro mais maravilhoso que conheci até hoje, e por uma doula, que não podia deixar de ser a primeira que conheci e pela qual me “apaixonei” já em 2009! 

Reunidas as condições, equipa e local escolhido, toca de esperar pelo dia “P”. Aquele dia que me levaria a conhecer as verdadeiras capacidades do corpo, da natureza e da minha essência enquanto mulher. 

No dia 17 acordo por volta das 5:30 da manhã com uma contracção com dor, ignorei e adormecei. Passados uns 30 minutos, outra! Levantei-me logo e assumi ser um sinal forte de que algo ia mudar nos próximos dias… durante esse dia continuei assim, umas com dor, outras sem, mas tudo sem ritmo. 

Na noite de 17/18, dormi mal, muitas contracções, umas doíam, outras não, mas a maioria fazia-me acordar. Passei o dia a tentar perceber-me e à noite liguei à minha doula que se prontificou a vir para junto de mim. Liguei igualmente ao enfermeiro que me disse logo para ir avaliando e assim que elas ganhassem ritmo e estivessem de 5/5 em min para avisar que ele viria. 

Pedi aos meus pais para virem buscar as meninas, não queria que elas assistissem ao parto, para mim não faria qualquer sentido. Até porque elas são muito pequenas e não iriam entender porque a mãe ia ter dores ou algum tipo de desconforto. Acredito que eu mesma também não teria paciência para lhes dar atenção caso precisassem.

O marido foi então proceder à limpeza e enchimento da piscina, que ainda não o tínhamos feito. O lugar escolhido foi o nosso quarto. E a ideia inicial era o bebe nascer la, na piscina ou fora dela! O quarto era o local escolhido. 



A noite foi passada entre contracções, já todas com dor, mas sempre sem ritmo, ora tínhamos uma hora completa de contracções de 10/10, ora abrandava e passavam a 20/30 minutos de novo. A certa altura a doula disse para ir descansar e elas abrandaram por completo. Na manhã seguinte sugeriu-me um longo passeio a pé... e la fomos. Na volta o enfermeiro veio fazer avaliação do meu estado. Para meu desânimo um cm de dilatação, mal medido, apenas! Era possível que estivéssemos sobre um falso trabalho de parto e isso desanimou-me imenso. Não podia ser, pensava eu! 

A conselho dele resolvi descansar o resto da manhã e ambos saíram. A ideia era de tarde ir dar um passeio à praia com o marido, mas isso já não aconteceu. 

Por volta das 15 horas, coloquei dois bancos almofadados em frente ao meu sofá, sobre eles um édredon e uma almofada bem alta e debrucei-me, assim aliviava as dores das contracção e descansava no intervalo delas. Usando um aplicativo para o telemóvel fui contabilizando os tempos e a frequência delas. 


Comecei a falar comigo mesma, com o meu corpo e com o meu bebe. A imaginar o meu colo a abrir e o bebe a descer/encaixar… comecei a dizer ao bebe para descer e fazer o trabalho dele que eu ia fazer o meu e breve nos íamos conhecer, passei largas horas nisto. Comecei a notar contracções ritmadas de 8/8 minutos, agora sim entrava em trabalho de parto efectivo… depois de 5/5 por volta das 20 h e liguei para a doula (a medo!) pois estava com receio de a fazer vir e tudo abrandar de novo. Liguei ao enfermeiro que disse que ia começar a arrumar as coisas para vir. Passado uma hora chega a doula e as contracções já estavam de 3/3 minutos e algumas com duração de 1:30. 

Ligo de novo ao enfermeiro que sugeriu ir para a piscina e relaxar. Sentia uma dor enorme nos rins sempre que a contracção vinha e a única forma de lidar com ela era com massagem/pressão. A doula e o meu marido foram incansáveis nisso, iam massajando a zona e eu sentia um enorme alívio e conforto. 



O enfermeiro chega, avaliação feita e 5 cm completos, confesso que esperava mais, estava ansiosa para conhecer o meu bebe… mas continuámos a relaxar na água, eu e o meu marido, num ambiente a media luz, só nós, ele conta que no intervalo das contracções eu relaxava de tal forma que eu adormecia por completo, e isso aconteceu ate na piscina, tendo ele de me segurar enquanto eu dormitava. Sinceramente não me recordo. Há partes que não lembro mesmo. 

A determinada altura achamos que as contracções teriam abrandado e foi sugerido que saísse da água, embora eu mesma já estivesse também com esse desejo. 

Desci e voltei para o meu lugar refúgio, os bancos e as almofadas… nisto uma vontade única de fazer força, como eu nunca tinha sentido na vida… e comento isso mesmo. Nova avaliação e voilá 8 cm. Passou tão rápido, porque recordo-me que não estivemos muito tempo na agua. 

Confesso que nesta fase, eu achava que as minhas costas me iam “matar”, aquelas dores sobre os rins eram difíceis de se lidar sem massagem/pressão naquela zona. Nesta fase eu tentava imaginar-me na minha cama, deitada em lençóis brancos com o meu bebe já nascido e a descansarmos… imaginava estar naquele conforto delicioso. E assim tentava abstrair-me.

Mais uns minutos e dilatação completa. Nesta altura era preciso fazer força, porque o bebe estava mal posicionado, era preciso rodar para a posição certa… havia ainda um longo trabalho da parte dele a ser feito. Foi-me questionado onde eu queria que o bebe nascesse, e para mim já nada importava podia ser mesmo ali, no sofá da sala. Já nem pensava na piscina, nem no quarto, nem em nada… queria fazer nascer o meu bebe. 


Estive algum tempo nesta fase, era preciso fazer força para o ajudar a rodar. A determinada altura, o enfermeiro resolveu dar uma ajuda o que para mim foi uma bênção e rapidamente cheguei à parte em que tinha de fazer força mas para o fazer nascer. Força que eu não sabia ser capaz de fazer, daquela força que nós temos não sei onde… foi mesmo essa que fez o meu bebe nascer de uma só vez à quarta contracção! 

O bebe veio logo para o meu peito… coisa maravilhosa. Pude senti-lo logo em cima de mim, ainda ensanguentado, ainda cheio de vernix, ainda com aquele cheiro tão próprio, tão característico de um bebe acabado de nascer. Senti um prazer que nunca tinha sentido. Após o cordão acabar de pulsar foi cortado, aqui não sei por quem, porque o meu marido não quis, e sinceramente, por muito que me esforce não me consigo recordar. Enquanto mimava o meu bebe levei meia dúzia de pontos. 




Assim ficamos os dois o resto da noite, coladinhos, eu e o meu filho, despidos, a sentir o calor um do outro, o cheirinho, a desfrutar do toque pele com pele. 

Apenas nos afastamos uns minutos para ser pesado.




Foi lindo, foi mágico, fiz nascer o meu filho! Vê-lo ali, assim saído de mim, e por mim, foi a sensação mais maravilhosa do meu mundo… naquele dia, sem dúvida… NASCEMOS OS DOIS! 

Na manhã seguinte, subi para a minha casa de banho, sem dúvida um outro conforto e vantagem de estar em casa. Tomei um banho relaxante com a ajuda e vigilância do meu marido. E pude finalmente descansar na minha cama com o meu bebe. Não mais fui tocada, observada ou mexida desnecessariamente e isso agradou-me. A doula que tinha dormido de novo connosco, vestiu o bebe e deitou-o juntinho a mim. Ajudou o meu marido naquilo que ele precisou e depois saiu, deixando-nos aos três sozinhos para o nosso merecido descanso e retiro familiar.

Fui tão amada, acarinhada e respeitada o tempo todo. Pude movimentar-me, adoptar outras posições mais confortáveis para alivio da dor. Pude beber líquidos (agua e chás) e comer. Estive sempre activa. Não me foi feita episiotomia. Não fui tocada sem que eu o desejasse também. O meu bebe não teve de passar por todos aqueles procedimentos típicos que nos afastam em ambiente hospitalar e em nada contribuem para o seu bem-estar, como sejam as aspirações, limpezas, vestir e aplicação de soluções medicamentosas.

Ao quarto dia o enfermeiro veio ver-nos. Fez o teste do pezinho ao bebé e medi-o. Trouxe o livrinho oficial do bebe e o documento do nascimento para procedermos ao seu registo. E assim terminou a nossa deliciosa aventura.


Com o meu relato quero dizer que um parto via vaginal após duas cesarianas é perfeitamente possível, sendo, portanto uma gravidez de baixo risco. Em casa também é uma possibilidade a considerar, mas há variáveis que é preciso avaliar, convém procurar ajuda de um profissional que vos possa esclarecer e orientar. 

Nunca em momento nenhum senti dor ou qualquer desconforto na cicatriz. 

Quando me perguntam quais as razões que me levaram a optar por um parto domiciliar, eu digo que são muitas, mas a mais importante foi, sem dúvida a busca pelo respeito por mim e pelo meu filho. O respeito pela minha vontade. Busquei um respeito que em ambiente hospitalar eu não teria, pelo menos não dentro do que eu considero respeito pelo parto e pela sua fisiologia. 

Foi muito importante para nós ter uma doula. O apoio emocional, psicológico e toda a ajuda que ela nos prestou, foi simplesmente fantástico, todas as mulheres deviriam ter uma no seu parto. Sentir que tínhamos ali alguém que não só conhecia a fisiologia do parto, mas também já tinha passado pelo mesmo, sabia identificar cada um dos meus sinais, sabia orientar-nos para aliviar a dor e nos deixar mais confortáveis. Uma presença imprescindível sem dúvida. 

Durante este processo todo temi pelo meu marido. Conheço a sua fraqueza em lidar com sangue vivo, mas ele conseguiu surpreender-me e surpreender-se a si mesmo. Diz que apenas se sentiu mal quando me viu ser cozida. Sentiu o chão fugir-lhe dos pés. De resto durante todo o tempo ele esteve à altura. Acho que depois deste "tratamento" esta apto a virar enfermeiro. 

Quanto à dor. Toda a gente me pergunta como lidei com ela. E o que eu digo é que se nos mantivermos activas durante o trabalho de parto, tivermos um bom suporte emocional e psicológico (doula e o marido por perto), formos variando as posições e tentar procurar conforto explorando as ordens do nosso corpo, posso afirmar que não é assim tão difícil de lidar com ela. Claro que também passei pela fase em que achava que não ia conseguir, mas lá estavam aqueles três corações para me encher de coragem o tempo todo. 
Afinal nós somos capazes de fazer isto. Basta acreditar em nós mesmas e na nossa capacidade de fazer nascer os nossos filhos.

No que diz respeito aos pontos, foi fantástica a recuperação, não senti absolutamente nada, sempre me sentei e mexi muito bem, tanto que ao 4º dia eu ja me sentava à "chinês". Obrigada António pelo excelente trabalho e sei bem, que não foram só meia dúzia de pontos.  

Hoje sinto-me feliz pela minha escolha e se houver uma "outra vez", será com certeza, desta forma.